Intervenção na audiência geral de quarta-feira
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 25 de agosto de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos o discurso de Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, no pátio da residência pontifícia de Castel Gandolfo, em que, na presença dos peregrinos, o Papa falou sobre Santo Agostinho, a busca da Verdade e a importância do silêncio.
* * *
Caríssimos irmãos e irmãs,
na vida de cada um de nós existem pessoas muito queridas, que sentimos particularmente próximas, algumas já estão nos braços de Deus, outras ainda partilham conosco o caminho da vida: são os nossos pais, os parentes, os educadores, as pessoas a quem fizemos bem ou de quem recebemos o bem; são pessoas com quem sabemos que podemos contar. É importante, entretanto, ter também alguns “companheiros de viagem” no caminho de nossa vida cristã: penso no Diretor espiritual, no Confessor, nas pessoas com quem se pode compartilhar a experiência de fé, mas penso também na Virgem Maria e nos Santos. Todos devem ter algum santo que lhe seja familiar, para senti-lo próximo por meio da oração e intercessão, mas também para imitá-lo. Gostaria de convidar, então, a um maior conhecimento dos Santos, começando por aquele de quem se leva o nome, lendo sua vida, seus escritos. Tenham certeza de que eles se tornarão bons guias para amar ainda mais o Senhor e uma válida ajuda para o crescimento humano e cristão.
Como sabem, eu mesmo estou ligado de modo especial a algumas figuras dos Santos: entre eles, estão São José e São Bento, de quem levo o nome, e outros, como Santo Agostinho, que tive o grande dom de conhecer, por assim dizer, muito de perto, através do estudo e da oração, e que se tornou um bom “companheiro de viagem” na minha vida e no meu ministério.
Gostaria de sublinhar uma vez mais um aspecto importante da sua experiência humana e cristã, atual mesmo em nossa época, em que parece que o relativismo é, paradoxalmente, a “verdade” que deve guiar o pensamento, as escolhas, os comportamentos. Santo Agostinho é um homem que nunca viveu com superficialidade; a sede, a busca inquieta e constante da Verdade é uma das características fundamentais de sua existência; não, porém, das “pseudo verdades” incapazes de levar paz duradoura ao coração, mas daquela Verdade que dá sentido à existência e é “a morada” em que o coração encontra serenidade e alegria.
O caminho dele não foi fácil, nós sabemos: pensava em encontrar a Verdade no prestígio, na carreira, na posse das coisas, nas vozes que lhe prometiam felicidade imediata; cometeu erros, atravessou a tristeza, enfrentou insucessos, mas nunca parou, nunca se satisfez com aquilo que lhe dava apenas um vislumbre de luz; soube perscrutar o íntimo de si e percebeu, como escreve nas Confissões, que aquela Verdade, que o Deus que buscava com suas próprias forças era mais íntimo de si que ele próprio, ele sempre esteve ao seu lado, nunca o tinha abandonado, estava à espera de poder entrar de modo definitivo na sua vida (cf. III, 6, 11; X, 27, 38). Como dizia ao comentar o recente filme sobre sua vida, Santo Agostinho compreendeu, em sua busca inquieta, que não era ele quem havia encontrado a Verdade, mas a própria Verdade, que é Deus, tinha-o buscado e encontrado (cf. L’Osservatore Romano, quinta-feira, 4 de setembro de 2009, p. 8). Romano Guardini, comentando uma passagem do terceiro capítulo das Confissões, afirma: Santo Agostinho percebe que Deus é “glória que se ajoelha, bebida que mata a sede, o amor que traz felicidade, [... ele era] a pacificante certeza de que finalmente tinha compreendido, mas também a beatitude do amor que sabe: isto é tudo e me basta” (Pensatori religiosi, Brescia 2001, p. 177).
Também nas Confissões, no livro nono, nosso Santo reporta uma conversa com a mãe, Santa Mônica, cuja memória se celebra na próxima sexta-feira, depois de amanhã. É uma cena muito bonita: ele e sua mãe estão em Ostia, em um hotel, e da janela veem o céu e o mar, transcendem céu e mar, e por um momento tocam o coração de Deus no silêncio das criaturas. E aqui surge uma ideia fundamental no caminho para a Verdade: as criaturas devem silenciar, deve prevalecer o silêncio, em que Deus pode falar. Isso é verdade ainda mais em nosso tempo: há uma espécie de medo do silêncio, do recolhimento, do pensar as próprias ações, do sentido profundo da própria vida, frequentemente se prefere viver o momento fugaz, iludindo-se de que traz felicidade duradoura, prefere-se viver assim pois parece mais fácil, com superficialidade, sem pensar; há medo de buscar a Verdade ou talvez haja medo de que a Verdade seja encontrada, que agarre e mude a vida, como aconteceu com Santo Agostinho.
Caríssimos irmãos e irmãs, gostaria de dizer a todos, também àqueles que vivem um momento de dificuldade no seu caminho de fé, aos que participam pouco da vida da Igreja ou aos que vivem “como se Deus não existisse”, que não tenham medo da Verdade, não interrompam o caminho para ela, não deixem de buscar a verdade profunda sobre si e sobre as coisas, com os olhos interiores do coração. Deus não falhará em oferecer a Luz para fazer ver e Calor para fazer sentir, ao coração que ama e que deseja ser amado.
A intercessão da Virgem Maria, de Santo Agostinho e de Santa Mônica os acompanhe neste caminho.
© Copyright 2010 - Libreria Editrice Vaticana
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 25 de agosto de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos o discurso de Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, no pátio da residência pontifícia de Castel Gandolfo, em que, na presença dos peregrinos, o Papa falou sobre Santo Agostinho, a busca da Verdade e a importância do silêncio.
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Caríssimos irmãos e irmãs,
na vida de cada um de nós existem pessoas muito queridas, que sentimos particularmente próximas, algumas já estão nos braços de Deus, outras ainda partilham conosco o caminho da vida: são os nossos pais, os parentes, os educadores, as pessoas a quem fizemos bem ou de quem recebemos o bem; são pessoas com quem sabemos que podemos contar. É importante, entretanto, ter também alguns “companheiros de viagem” no caminho de nossa vida cristã: penso no Diretor espiritual, no Confessor, nas pessoas com quem se pode compartilhar a experiência de fé, mas penso também na Virgem Maria e nos Santos. Todos devem ter algum santo que lhe seja familiar, para senti-lo próximo por meio da oração e intercessão, mas também para imitá-lo. Gostaria de convidar, então, a um maior conhecimento dos Santos, começando por aquele de quem se leva o nome, lendo sua vida, seus escritos. Tenham certeza de que eles se tornarão bons guias para amar ainda mais o Senhor e uma válida ajuda para o crescimento humano e cristão.
Como sabem, eu mesmo estou ligado de modo especial a algumas figuras dos Santos: entre eles, estão São José e São Bento, de quem levo o nome, e outros, como Santo Agostinho, que tive o grande dom de conhecer, por assim dizer, muito de perto, através do estudo e da oração, e que se tornou um bom “companheiro de viagem” na minha vida e no meu ministério.
Gostaria de sublinhar uma vez mais um aspecto importante da sua experiência humana e cristã, atual mesmo em nossa época, em que parece que o relativismo é, paradoxalmente, a “verdade” que deve guiar o pensamento, as escolhas, os comportamentos. Santo Agostinho é um homem que nunca viveu com superficialidade; a sede, a busca inquieta e constante da Verdade é uma das características fundamentais de sua existência; não, porém, das “pseudo verdades” incapazes de levar paz duradoura ao coração, mas daquela Verdade que dá sentido à existência e é “a morada” em que o coração encontra serenidade e alegria.
O caminho dele não foi fácil, nós sabemos: pensava em encontrar a Verdade no prestígio, na carreira, na posse das coisas, nas vozes que lhe prometiam felicidade imediata; cometeu erros, atravessou a tristeza, enfrentou insucessos, mas nunca parou, nunca se satisfez com aquilo que lhe dava apenas um vislumbre de luz; soube perscrutar o íntimo de si e percebeu, como escreve nas Confissões, que aquela Verdade, que o Deus que buscava com suas próprias forças era mais íntimo de si que ele próprio, ele sempre esteve ao seu lado, nunca o tinha abandonado, estava à espera de poder entrar de modo definitivo na sua vida (cf. III, 6, 11; X, 27, 38). Como dizia ao comentar o recente filme sobre sua vida, Santo Agostinho compreendeu, em sua busca inquieta, que não era ele quem havia encontrado a Verdade, mas a própria Verdade, que é Deus, tinha-o buscado e encontrado (cf. L’Osservatore Romano, quinta-feira, 4 de setembro de 2009, p. 8). Romano Guardini, comentando uma passagem do terceiro capítulo das Confissões, afirma: Santo Agostinho percebe que Deus é “glória que se ajoelha, bebida que mata a sede, o amor que traz felicidade, [... ele era] a pacificante certeza de que finalmente tinha compreendido, mas também a beatitude do amor que sabe: isto é tudo e me basta” (Pensatori religiosi, Brescia 2001, p. 177).
Também nas Confissões, no livro nono, nosso Santo reporta uma conversa com a mãe, Santa Mônica, cuja memória se celebra na próxima sexta-feira, depois de amanhã. É uma cena muito bonita: ele e sua mãe estão em Ostia, em um hotel, e da janela veem o céu e o mar, transcendem céu e mar, e por um momento tocam o coração de Deus no silêncio das criaturas. E aqui surge uma ideia fundamental no caminho para a Verdade: as criaturas devem silenciar, deve prevalecer o silêncio, em que Deus pode falar. Isso é verdade ainda mais em nosso tempo: há uma espécie de medo do silêncio, do recolhimento, do pensar as próprias ações, do sentido profundo da própria vida, frequentemente se prefere viver o momento fugaz, iludindo-se de que traz felicidade duradoura, prefere-se viver assim pois parece mais fácil, com superficialidade, sem pensar; há medo de buscar a Verdade ou talvez haja medo de que a Verdade seja encontrada, que agarre e mude a vida, como aconteceu com Santo Agostinho.
Caríssimos irmãos e irmãs, gostaria de dizer a todos, também àqueles que vivem um momento de dificuldade no seu caminho de fé, aos que participam pouco da vida da Igreja ou aos que vivem “como se Deus não existisse”, que não tenham medo da Verdade, não interrompam o caminho para ela, não deixem de buscar a verdade profunda sobre si e sobre as coisas, com os olhos interiores do coração. Deus não falhará em oferecer a Luz para fazer ver e Calor para fazer sentir, ao coração que ama e que deseja ser amado.
A intercessão da Virgem Maria, de Santo Agostinho e de Santa Mônica os acompanhe neste caminho.
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