Uso Anglicano na Igreja Católica
NOTA DA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ SOBRE OS ORDINARIATOS PESSOAIS PARA OS ANGLICANOS QUE ENTRAM NA IGREJA CATÓLICA
Com a preparação de uma Constituição Apostólica, a Igreja Católica responde às numerosas solicitações que foram submetidas à Santa Sé por grupos de clérigos e fiéis anglicanos provenientes de diversas partes do mundo, os quais desejam entrar em plena e visível comunhão.
Nesta Constituição Apostólica, o Santo Padre introduziu uma estrutura canônica que prevê tal reunião corporativa através da instituição de Ordinariatos Pessoais, que permitirão aos fiéis outrora anglicanos entrarem na plena comunhão com a Igreja Católica, conservando ao mesmo tempo elementos do específico patrimônio espiritual e litúrgico anglicano. Segundo o teor da Constituição Apostólica a vigilância e a condução pastoral para tais grupos de fiéis outrora anglicanos será assegurada por um Ordinariato Pessoal, cujo Ordinário será usualmente nomeado dentre o clero até então anglicano.
A Constituição Apostólica que será logo publicada representa uma resposta razoável e mesmo necessária para um fenômeno global, oferecendo um único modelo canônico para a Igreja universal adaptável a diversas situações locais e, na sua aplicação universal, justo para os até então anglicanos. Tal modelo prevê a possibilidade de ordenação de clérigos casados, até então anglicanos, como sacerdotes católicos. Razões históricas e ecumênicas não permitem a ordenação de homens casados como bispos, tanto na Igreja Católica como nas Ortodoxas. Portanto, a Constituição determina que o Ordinário seja um sacerdote ou um bispo não casado. Os seminaristas do Ordinariato sejam preparados junto com outros seminaristas católicos, ainda que o Ordinariato possa abrir uma casa de formação a fim de responder às necessidades particulares de formação no patrimônio litúrgico anglicano. Deste modo, a Constituição Apostólica procura criar um equilíbrio entre o interesse de conservar o precioso patrimônio litúrgico e espiritual anglicano de um lado, e a preocupação que estes grupos e o seu clero sejam incorporados na Igreja Católica.
O Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que preparou tal provisão, afirmou: “Procuramos vir ao encontro, de modo unitário e justo, dos pedidos de uma plena união que foram submetidos da parte de fiéis anglicanos provenientes de várias partes do mundo nos anos recentes. Com tal proposta a Igreja pretende responder às legítimas aspirações destes grupos anglicanos por uma comunhão plena e visível com o Bispo de Roma, o sucessor de São Pedro”.
Estes Ordinariatos Pessoais serão instituídos segundo as necessidades, prévia consulta com as Conferências Episcopais locais e as suas estruturas serão de algum modo semelhantes às dos Ordinariatos Militares, que foram erigidos em tantos países para providenciar o cuidado pastoral dos membros das forças armadas e de seus dependentes no mundo inteiro. “Os anglicanos que fizeram contato com a Santa Sé expressaram claramente o seu desejo por uma plena e visível comunhão na Igreja una, santa, católica e apostólica. Ao mesmo tempo nos falaram da importância de suas tradições anglicanas relativas à espiritualidade e ao culto para o próprio caminho de fé”, afirmou o Cardeal Levada.
A provisão desta nova estrutura está em conformidade com o empenho pelo diálogo ecumênico, que continua sendo uma prioridade para a Igreja Católica, em particular através dos esforços do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. “A iniciativa provém de vários grupos de anglicanos”, acrescentou o Cardeal Levada. “Eles declararam condividir a comum fé católica, como expressa no Catecismo da Igreja Católica, e aceitar o ministério petrino como um elemento desejado por Cristo para a Igreja. Para eles é chegado o tempo de exprimir tal união implícita em uma forma visível de plena comunhão”.
Segundo o Cardeal Levada: “O Santo Padre Bento XVI espera que os clérigos e fiéis anglicanos desejosos de união com a Igreja Católica encontrem nesta estrutura canônica a oportunidade de preservar as tradições anglicanas que lhes sejam preciosas e estejam em conformidade com a fé católica. Enquanto exprimem de modo distinto a fé professada em comum, tais tradições são um dom a ser condividido com a Igreja universal. A união com a Igreja não requer a uniformidade que ignora as diversidades culturais, como demonstra a história do cristianismo. Além do mais, as numerosas e diversas tradições hoje presentes na Igreja Católica estão todas radicadas no princípio formulado por São Paulo na sua Carta aos Efésios: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (4,5). A nossa comunhão é, pois, reforçada por tais diversidades legítimas, e estamos felizes que estes homens e mulheres ofereçam as suas contribuições particulares à nossa comum vida de fé”.
Informações contextuais
Desde o século XVI, quando o Rei Henrique VIII declarou a independência da Igreja da Inglaterra em relação à autoridade do Papa, a Igreja da Inglaterra criou as próprias confissões doutrinais, usos litúrgicos e práticas pastorais, incorporando frequentemente ideias da Reforma ocorrida no continente europeu. A expansão do Reino Britânico, conjugada ao apostolado missionário anglicano, comportou depois o nascimento de uma Comunhão Anglicana a nível mundial.
No curso dos mais de 450 anos de sua história, a questão da reunião entre anglicanos e católicos jamais foi deixada de lado. Na metade do século XIX, o Movimento de Oxford (na Inglaterra) mostrou um renovado interesse pelos aspectos católicos do anglicanismo. No início do século XX, o Cardeal Mercier, da Bélgica, engajou-se em colóquios públicos com anglicanos a fim de explorar a possibilidade de uma reunião com a Igreja católica sob a bandeira de um anglicanismo “reunido, mas não absorvido”.
O Concílio Vaticano II nutriu ulteriormente a esperança de uma união, em particular com o Decreto sobre o ecumenismo (n.13), o qual, fazendo referência às Comunidades separadas da Igreja Católica no tempo da Reforma, reafirmou: “Entre aquelas [comunhões] nas quais continuam a subsistir em parte as tradições e as estruturas católicas, ocupa um lugar especial a Comunhão Anglicana”.
Desde o Concílio as relações entre anglicanos e católico-romana criaram um clima melhor de compreensão e cooperação mútua. A Comissão Internacional Anglicano-Católico Romana (ARCIC) produziu uma série de declarações doutrinais no curso dos anos, na esperança de criar a base de uma plena e visível união. Para muitos membros das duas Comunhões, as declarações da ARCIC puseram à disposição um instrumento no qual a comum expressão da fé pode ser reconhecida. É nesta moldura que se deve enquadrar a nova provisão.
Nos anos sucessivos ao Concílio, alguns anglicanos abandonaram a tradição de conferir as Ordens Sacras apenas a homens, chamando ao presbiterato e ao episcopado também as mulheres. Mais recentemente, alguns segmentos da Comunhão Anglicana se distanciaram do comum ensinamento bíblico acerca da sexualidade humana – já claramente expresso no documento da ARCIC “Vida em Cristo” – conferindo as Ordens Sacras a clérigos abertamente homossexuais e abençoando as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Todavia, enquanto a Comunhão Anglicana deve enfrentar estes novos e difíceis desafios, a Igreja Católica permanece plenamente empenhada no seu diálogo ecumênico com a Comunhão Anglicana, em particular através da atividade do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Neste ínterim, muitos anglicanos entraram individualmente na plena comunhão com a Igreja Católica. Algumas vezes entraram também grupos de anglicanos, conservando uma certa estrutura “corporativa”. Isto aconteceu, por exemplo, com a diocese anglicana de Amritsar na Índia e com algumas paróquias nos Estados Unidos que, embora mantendo uma identidade anglicana, entraram na Igreja Católica no quadro da assim chamada “provisão pastoral”, adotado pela Congregação para a Doutrina da Fé e aprovado pelo Papa João Paulo II em 1982. Nestes casos, a Igreja Católica frequentemente dispensou do requisito do celibato admitindo que aqueles clérigos anglicanos casados que desejam continuar o serviço ministerial como sacerdotes católicos sejam ordenados na Igreja Católica.
Neste contexto, os Ordinariatos Pessoais instituídos segundo a supramencionada Constituição Apostólica podem ser vistos como um passo ulterior em direção à realização da aspiração à plena e visível união na única Igreja, que é um dos fins principais do movimento ecumênico.
Fonte: Santa Sé
Tradução: OBLATVS
NOTA DA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ SOBRE OS ORDINARIATOS PESSOAIS PARA OS ANGLICANOS QUE ENTRAM NA IGREJA CATÓLICA
Com a preparação de uma Constituição Apostólica, a Igreja Católica responde às numerosas solicitações que foram submetidas à Santa Sé por grupos de clérigos e fiéis anglicanos provenientes de diversas partes do mundo, os quais desejam entrar em plena e visível comunhão.
Nesta Constituição Apostólica, o Santo Padre introduziu uma estrutura canônica que prevê tal reunião corporativa através da instituição de Ordinariatos Pessoais, que permitirão aos fiéis outrora anglicanos entrarem na plena comunhão com a Igreja Católica, conservando ao mesmo tempo elementos do específico patrimônio espiritual e litúrgico anglicano. Segundo o teor da Constituição Apostólica a vigilância e a condução pastoral para tais grupos de fiéis outrora anglicanos será assegurada por um Ordinariato Pessoal, cujo Ordinário será usualmente nomeado dentre o clero até então anglicano.
A Constituição Apostólica que será logo publicada representa uma resposta razoável e mesmo necessária para um fenômeno global, oferecendo um único modelo canônico para a Igreja universal adaptável a diversas situações locais e, na sua aplicação universal, justo para os até então anglicanos. Tal modelo prevê a possibilidade de ordenação de clérigos casados, até então anglicanos, como sacerdotes católicos. Razões históricas e ecumênicas não permitem a ordenação de homens casados como bispos, tanto na Igreja Católica como nas Ortodoxas. Portanto, a Constituição determina que o Ordinário seja um sacerdote ou um bispo não casado. Os seminaristas do Ordinariato sejam preparados junto com outros seminaristas católicos, ainda que o Ordinariato possa abrir uma casa de formação a fim de responder às necessidades particulares de formação no patrimônio litúrgico anglicano. Deste modo, a Constituição Apostólica procura criar um equilíbrio entre o interesse de conservar o precioso patrimônio litúrgico e espiritual anglicano de um lado, e a preocupação que estes grupos e o seu clero sejam incorporados na Igreja Católica.
O Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que preparou tal provisão, afirmou: “Procuramos vir ao encontro, de modo unitário e justo, dos pedidos de uma plena união que foram submetidos da parte de fiéis anglicanos provenientes de várias partes do mundo nos anos recentes. Com tal proposta a Igreja pretende responder às legítimas aspirações destes grupos anglicanos por uma comunhão plena e visível com o Bispo de Roma, o sucessor de São Pedro”.
Estes Ordinariatos Pessoais serão instituídos segundo as necessidades, prévia consulta com as Conferências Episcopais locais e as suas estruturas serão de algum modo semelhantes às dos Ordinariatos Militares, que foram erigidos em tantos países para providenciar o cuidado pastoral dos membros das forças armadas e de seus dependentes no mundo inteiro. “Os anglicanos que fizeram contato com a Santa Sé expressaram claramente o seu desejo por uma plena e visível comunhão na Igreja una, santa, católica e apostólica. Ao mesmo tempo nos falaram da importância de suas tradições anglicanas relativas à espiritualidade e ao culto para o próprio caminho de fé”, afirmou o Cardeal Levada.
A provisão desta nova estrutura está em conformidade com o empenho pelo diálogo ecumênico, que continua sendo uma prioridade para a Igreja Católica, em particular através dos esforços do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. “A iniciativa provém de vários grupos de anglicanos”, acrescentou o Cardeal Levada. “Eles declararam condividir a comum fé católica, como expressa no Catecismo da Igreja Católica, e aceitar o ministério petrino como um elemento desejado por Cristo para a Igreja. Para eles é chegado o tempo de exprimir tal união implícita em uma forma visível de plena comunhão”.
Segundo o Cardeal Levada: “O Santo Padre Bento XVI espera que os clérigos e fiéis anglicanos desejosos de união com a Igreja Católica encontrem nesta estrutura canônica a oportunidade de preservar as tradições anglicanas que lhes sejam preciosas e estejam em conformidade com a fé católica. Enquanto exprimem de modo distinto a fé professada em comum, tais tradições são um dom a ser condividido com a Igreja universal. A união com a Igreja não requer a uniformidade que ignora as diversidades culturais, como demonstra a história do cristianismo. Além do mais, as numerosas e diversas tradições hoje presentes na Igreja Católica estão todas radicadas no princípio formulado por São Paulo na sua Carta aos Efésios: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (4,5). A nossa comunhão é, pois, reforçada por tais diversidades legítimas, e estamos felizes que estes homens e mulheres ofereçam as suas contribuições particulares à nossa comum vida de fé”.
Informações contextuais
Desde o século XVI, quando o Rei Henrique VIII declarou a independência da Igreja da Inglaterra em relação à autoridade do Papa, a Igreja da Inglaterra criou as próprias confissões doutrinais, usos litúrgicos e práticas pastorais, incorporando frequentemente ideias da Reforma ocorrida no continente europeu. A expansão do Reino Britânico, conjugada ao apostolado missionário anglicano, comportou depois o nascimento de uma Comunhão Anglicana a nível mundial.
No curso dos mais de 450 anos de sua história, a questão da reunião entre anglicanos e católicos jamais foi deixada de lado. Na metade do século XIX, o Movimento de Oxford (na Inglaterra) mostrou um renovado interesse pelos aspectos católicos do anglicanismo. No início do século XX, o Cardeal Mercier, da Bélgica, engajou-se em colóquios públicos com anglicanos a fim de explorar a possibilidade de uma reunião com a Igreja católica sob a bandeira de um anglicanismo “reunido, mas não absorvido”.
O Concílio Vaticano II nutriu ulteriormente a esperança de uma união, em particular com o Decreto sobre o ecumenismo (n.13), o qual, fazendo referência às Comunidades separadas da Igreja Católica no tempo da Reforma, reafirmou: “Entre aquelas [comunhões] nas quais continuam a subsistir em parte as tradições e as estruturas católicas, ocupa um lugar especial a Comunhão Anglicana”.
Desde o Concílio as relações entre anglicanos e católico-romana criaram um clima melhor de compreensão e cooperação mútua. A Comissão Internacional Anglicano-Católico Romana (ARCIC) produziu uma série de declarações doutrinais no curso dos anos, na esperança de criar a base de uma plena e visível união. Para muitos membros das duas Comunhões, as declarações da ARCIC puseram à disposição um instrumento no qual a comum expressão da fé pode ser reconhecida. É nesta moldura que se deve enquadrar a nova provisão.
Nos anos sucessivos ao Concílio, alguns anglicanos abandonaram a tradição de conferir as Ordens Sacras apenas a homens, chamando ao presbiterato e ao episcopado também as mulheres. Mais recentemente, alguns segmentos da Comunhão Anglicana se distanciaram do comum ensinamento bíblico acerca da sexualidade humana – já claramente expresso no documento da ARCIC “Vida em Cristo” – conferindo as Ordens Sacras a clérigos abertamente homossexuais e abençoando as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Todavia, enquanto a Comunhão Anglicana deve enfrentar estes novos e difíceis desafios, a Igreja Católica permanece plenamente empenhada no seu diálogo ecumênico com a Comunhão Anglicana, em particular através da atividade do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Neste ínterim, muitos anglicanos entraram individualmente na plena comunhão com a Igreja Católica. Algumas vezes entraram também grupos de anglicanos, conservando uma certa estrutura “corporativa”. Isto aconteceu, por exemplo, com a diocese anglicana de Amritsar na Índia e com algumas paróquias nos Estados Unidos que, embora mantendo uma identidade anglicana, entraram na Igreja Católica no quadro da assim chamada “provisão pastoral”, adotado pela Congregação para a Doutrina da Fé e aprovado pelo Papa João Paulo II em 1982. Nestes casos, a Igreja Católica frequentemente dispensou do requisito do celibato admitindo que aqueles clérigos anglicanos casados que desejam continuar o serviço ministerial como sacerdotes católicos sejam ordenados na Igreja Católica.
Neste contexto, os Ordinariatos Pessoais instituídos segundo a supramencionada Constituição Apostólica podem ser vistos como um passo ulterior em direção à realização da aspiração à plena e visível união na única Igreja, que é um dos fins principais do movimento ecumênico.
Fonte: Santa Sé
Tradução: OBLATVS