sábado, 10 de setembro de 2011

Declínio das ordens religiosas: o fim de uma grande história?

No pós-Vaticano II, a reescrita de Regras e de Estatutos para adoçar a ascese e a disciplina, o emburguesamento de vidas que eram austeras, não atraíram noviços, desejosos de Absoluto, como todos os jovens, e não de compromissos com o espírito do tempo.

A opinião é do jornalista e escritor italiano Vittorio Messori, publicada no jornal Corriere della Sera, 31-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Ótimos negócios nos últimos anos, mas ainda mais nos próximos, para os agentes imobiliários romanos que lidam com "grandes edifícios de prestígio". Depois da Concordata – e ainda depois, com ritmo acelerado, no segundo pós-guerra – congregações e institutos católicos do mundo inteiro construíram em Roma as suas Casas Generalícias. Alguns também ergueram aqui seus noviciados e seminários.

Muitas vezes, não foram poupados gastos, especialmente na amplitude da área adquirida, organizada como um parque para proteger a tranquilidade e a privacidade dos religiosos. Os projetistas eram, em grande parte, do país de origem do instituto, de forma que Roma acabou hospedando uma coleção de arquitetura mundial (para melhor e para pior), embora quase sempre invisível por trás dos portões, dos muros, das árvores.

Pois bem, não só a secularização, mas também as perspectivas depois do Concílio Vaticano II, estão realizando silenciosamente aquilo que os franceses do jovem Bonaparte fizeram com a violência, quando ocuparam Roma e deportaram o papa. E, depois, os piemonteses, quando o obrigaram a se aprisionar não em Paris, mas no espaço vaticano.

Em ambos os casos, entre as primeiras medidas dos invasores, houve a expulsão violenta de frades, monges e freiras e à colocação no mercado do seu grande patrimônio imobiliário. Patrimônio que, depois, foi reconstituído, ou melhor, multiplicado até que, tendo alcançado o ápice na metade dos anos 1960, começou um declínio imprevisto.

Muito se falou e se fala da escassez das vocações à vida sacerdotal, pensando, sobretudo, no clero secular, o das dioceses, das paróquias. Mas talvez menos se comentou, pelo menos no mundo laico, sobre o inexorável declínio numérico das inumeráveis congregações de religiosos e, de modo ainda mais acentuado, de religiosas.

Entre o século XIX e o início do século XX, surgiram centenas de famílias de irmãs de "vida ativa", que desenvolveram preciosas tarefas sociais, muitas vezes com um admirável empenho e às vezes heroico. Mas agora essas atividades são geridas (muitas vezes com custos bem maiores e com uma eficácia bem menor; mas essa é outra história...) por entidades públicas, ou então essas necessidades foram eliminados desde que os tempos mudaram.

A jovem que tenha hoje, por exemplo, a vocação ao serviço aos doentes como enfermeira, ou às crianças como professora, pensa em um contrato hospitalar do estatal, e não, como antigamente, em um noviciado de irmãs. As congregações masculinas também sentiram duramente o desaparecimento das tarefas para as quais foram fundadas.

Mas tanto entre os homens, quanto entre as mulheres, o espírito conciliar tem agido, com a redescoberta do "sacerdócio universal", com a consequente revalorização do laicato e, portanto, com a consciência de que, para ser cristão até o fim, a vida religiosa não é o caminho obrigatório.

Diante do declínio, os superiores muitas vezes reagiram de modo contrário ao que a experiência e o “sensus fidei” sugeriam: nas muitas crises da sua história, a Igreja sempre enfrentou o desafio preferindo o rigor, não o afrouxamento das rédeas. Isso não ocorreu quando a Reforma Protestante esvaziou metade dos conventos da Europa ou no século XIX, depois da tempestade revolucionária?

No pós-Vaticano II, no entanto, a reescrita de Regras e de Estatutos para adoçar a ascese e a disciplina, o emburguesamento de vidas que eram austeras, não atraíram noviços, desejosos de Absoluto, como todos os jovens, e não de compromissos com o espírito do tempo.

Não por acaso, quem melhor se manteve de pé foram os mosteiros de clausura, que continuaram propondo uma Regra exigente, conforme a Tradição. Depois do êxodo impressionante da década 1968-1978, os espaços vazios não foram preenchidos, e (embora de um modo mais ou menos acentuado, dependendo dos Institutos) o declínio continua, e a idade média aumenta.

Virão reforços generosos e abundantes, então, da Ásia e da África? Os superiores-gerais que eu interroguei, quando fiz uma longa pesquisa entre as Congregações, me confessaram que essa foi, pelo menos em parte, uma grande ilusão. Motivos muitas vezes dúbios sobre a origem da "vocação" (uma forma, como entre nós temos atrás, para escapar da miséria, para estudar, para se tornar um notável), culturas, temperamentos, histórias muitas diferentes para se identificar, a vida inteira, ao carisma de um fundador europeu muitas vezes de séculos atrás.

Em suma, as estatísticas são impiedosas, e a realidade, muito frequentemente, apresenta casas de formação transformadas em casas de repouso, que absorvem, para a assistência, muitas das energias que sobraram. Não passa um mês em que algumas escola não é fechada, algum mosteiro até histórico e ilustre não é abandonado, alguma igreja não é repassada para as dioceses, mesmo que estas também estejam em grandes dificuldades de pessoal. Enquanto isso, algumas Casas Generalícias de Roma são postas no mercado, para se retirarem para lugares menos vastos e mais econômicos.

Realidade entristecedora para um fiel? Certamente é doloroso ver o declínio de instituições que foram beneméritas e mães de tantos santos, e constatar a dor de cristãos que deram a vida a Famílias que amavam e que agora veem se extinguir.

Mas, na perspectiva da fé, não pode haver nada verdadeiramente inquietante.

A Providência que guia a história (e ainda mais a Igreja, o próprio corpo de Cristo) sabe o que faz: "Tudo é graça", segundo as últimas palavras do pároco de aldeia de Bernanos. A Igreja não é um fóssil, mas sim uma árvore viva em que, sempre, alguns ramos secam, enquanto outros brotam e florescem.

Aqueles que conhecem a sua história sabem que, nela, a exemplo do Fundador, a morte é seguida pela ressurreição, muitas vezes em formas humanamente imprevistas. Não nos esqueçamos de que, no primeiro milênio cristão, havia apenas padres seculares e monges: todas as famílias religiosas apareceram apenas a partir do segundo milênio. Frades e irmãs não existiram por muitos séculos. Portanto, mesmo deixando uma recordação gloriosa e nostálgica, poderiam não existir no futuro (é uma hipótese extrema) ou, pelo menos, ter sempre menos peso e influência.

O que é certo é que, em todas as gerações, continuará se acendendo em muitos cristãos a necessidade de viver o Evangelho sine glossa, na sua radicalidade. Que rosto novo a vida consagrada por inteiro irá assumir para o aperfeiçoamento pessoal e para o serviço do próximo?

Bem, não temos acesso ao conhecimento do futuro. Ele é monopólio d'Aquele que, através de pobres homens, guia uma Igreja que não é nossa, mas Sua.


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