sábado, 3 de dezembro de 2011

Beato Cardeal Schuster sobre o Segundo Domingo do Advento


Beato Ildefonso [Alfredo Ludovico], Cardeal Schuster, OSB - do segundo tomo de Liber Sacramentorum - Notes historiques et liturgiques sur le Missel Romain: Segundo Domingo do Advento. Estação em Santa Cruz em Jerusalém.

Depois de Belém e da manjedoura, vem o Gólgota com a Cruz que já brilha ao longe sobre o campo sereno de Éfrata, onde o Verbo encarnado faz sua primeira aparição. Por esta razão a estação é na basílica Sessoriana – reprodução romana do Martyrium de Jersualém; ali se guardava a santa Cruz, que a imperatriz Helena dera à Igreja de Roma. É necessário, para evitar ilusões sentimentais, destacar claramente o caráter desta primeira aparição messiânica, na humilhação e na pobreza, para que se saiba que o Cristo se oferece como vítima expiatória pelos pecados do mundo; evitaremos assim cair no pecado dos Judeus que, em seu sensualismo orgulhoso, recusaram aceitar Jesus como Messias; unicamente porque ele não respondia à ideia megalomaníaca que faziam dele. Quantas almas, ainda hoje, encontram sua pedra de tropeço na Cruz! Quantos dizem que procuram Jesus e, ao encontrá-lo coroado de espinhos e a cruz sobre o ombro a caminho do Calvário, não percebem que é Ele, e passam adiante!

O Introito é tirado do capítulo 30 de Isaías, com o salmo 79, no qual se ora ao Senhor para que se revele diante das tribos fiéis de Israel. Este é o salmo das “Aparições”, que a Igreja repete com freqüência no ciclo do Natal, porque exprime o desejo supremo dos patriarcas e dos justos de que o “Poder do Altíssimo” venha resgatar a humanidade e dissipe o império de Satanás, o forte armado que guarda ciosamente seus prisioneiros.

A coleta se inspira no famoso grito do grande São João Batista: preparai os caminhos para o Senhor, e Lhe suplicaremos que espalhe a graça em nossos corações. Esta preparação consiste no espírito de contrição que purifica a alma e no propósito sincero de obedecer aos preceitos divinos.

Na leitura, São Paulo (Rom 15, 4-19) mostra a missão do Redentor, que é a de derrubar o muro divisório entre a raça de Abraão segundo a carne e o resto da humanidade, para formar uma única família, a Igreja. Jesus é verdadeiramente a flor da haste de Jessé, segundo a promessa feita por Deus aos patriarcas; mas ao mesmo tempo Ele é o monarca universal, em cujo nome as nações devem ser abençoadas, segundo o pacto concluído com Abraão que, por sua fé, tornou-se o pai de todos os crentes.

O Gradual é tomado do salmo 49 que, em cores vivas e impressionantes, descreve a parusia do Juiz divino, vindo ao mundo cercado pela multidão de seus santos, para dar a cada um segundo seus atos. Entre a primeira aparição do Menino Jesus e a vinda final do Juiz supremo dos vivos e dos mortos, há uma íntima conexão à qual a Igreja sempre nos faz prestar atenção. É o começo e o fim da era messiânica.

O versículo aleluiático é tomado de empréstimo ao salmo 121, e, em delicada alusão à Santa Hierusalem onde se celebra hoje a estação, exprime a alegria da alma na aurora de seu retorno próximo à Jerusalém celeste.

João é o anjo que precede a vinda do Homem-Deus; por isto, o Evangelho deste dia (Mt 11, 2-19), levando em conta mais a ordem lógica do que a seqüência cronológica dos eventos, descreve-nos o santo Precursor enviando seus discípulos a Jesus, para aprender de sua própria boca o anúncio da Boa Nova. Jesus, mais do que por palavras, demonstra sua missão messiânica por suas obras e, por meio dos milagres, ensina que o maior de todos os prodígios que atestam sua divindade é a conversão do mundo não obstante o escândalo da Cruz. É justamente nisto que os Israelitas encontraram sua pedra de tropeço, enquanto os gentios, pelo contrário, chegaram à bem-aventurança adorando precisamente a divindade daquEle que foi pendurado.

O Ofertório é trado do salmo 84, claramente messiânico. Depois de longos séculos de indignação, Deus inaugura enfim a era da graça e olha seu povo com doçura. Este espera e reza, a fim de que o Senhor revele ao mundo sua Misericórdia que é justamente Jesus “Salvador”.

A Redenção, a χάρις, que é o espírito do Novo Testamento, não se deve aos méritos; trata-se de um puro dom da bondade de Deus. Por isto, na coleta sobre as oblações, reconhecemos nossa insuficiência, e invocamos nossa pobreza e nossa miséria como motivos para implorar a graça.

A antífona para a Comunhão é tirada de Baruc (4 e 5) que, sob o símbolo da Hierusalem estacional, convida hoje a alma a se preparar para as alegrias futuras que o Senhor lhe reserva para o Natal.

A graça eucarística que imploramos na coleta é que o Pão divino, memorial da morte do Senhor, destrua em nós os gérmens viciosos e que nos nutra para a vida celeste.

Na idade média, a venerável basílica Sessoriana era simplesmente chamada Sancta Hierusalem; isto explica as graciosas alusões a este título encontradas na liturgia deste dia.


Salvem a Liturgia