Vaticano, 02 de maio. A Igreja Católica precisa de membros ativos que escrevam blogs, mas os blogueiros católicos também precisam da Igreja, especialmente para lembrá-los sobre a virtude da caridade nos seus textos, disseram os participantes do I Encontro de Blogs do Vaticano (Vatican Blog Meeting).
O encontro de 2 de maio foi patrocinado pelo Conselho Pontifício para a Cultura e pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Os Conselhos receberam as inscrições, e então foram divididos de acordo com a região, idioma e se o blog era pessoal ou institucional e, destes foram escolhidos os nomes de 150 participantes.
Richard Rouse, um funcionário do Conselho para a Cultura, disse que a notícia sobre o encontro do Vaticano já tinha estimulado outras igrejas à iniciar o diálogo com blogueiros locais.
O encontro do Vaticano, disse ele, não foi planejado com a finalidade de ser um seminário sobre como fazer, e nem tinha o objetivo de desenvolver um código de conduta, mas sim de reconhecer o papel dos blogs na comunicação moderna e a dar início ao diálogo entre os blogueiros e o Vaticano.
Padre Roderick Vonhogen, sacerdote holandês e autor de “Katholiek Leven” (Vida Católica), disse no encontro que blogar “permite que ele seja um pastor para aqueles que precisam de um pastor, não para aqueles que já possuem um” porque são ativos numa paróquia.
“Se você escreve um texto para o blog e ninguém comenta, você se sente péssimo … sozinho e isolado,” disse ele. Os comentários fazem com que o autor e os leitores se sintam parte de uma comunidade.
Mas, é somente quando você estabelece interesse e amizade pode converter alguém, disse Padre Vonhogen.
Elizabeth Scalia, autora do “The Anchoress”, disse que enquanto a mídia convencional tende a ver os blogs como “um meio de auto-promoção”, geralmente os blogs católicos são verdadeiras fontes de “clareza católica”.
Mas os blogueiros não podem alegar serem fontes de clareza a menos que o façam com caridade, disse ela.
“Clareza é um dos maiores desafios que enfrentamos”, afirmou, porque “a liberdade é tanto um dom como uma fonte de tentação para nossos egos”.
Scalia lembrou que a blogosfera católica contém excessivas expressões do tipo “nós e eles” tanto no lado conservador como no lado progressista da Igreja.
Como católicos, disse ela, “não é nosso papel fomentar inimizades”.
“A Igreja precisa de nós”, disse Scalia. “Ela precisa de nós na evangelização. Ela precisa de nós para disseminar informação e muitas vezes para corrigir a informação”.
“A Igreja precisa que estejamos onde pastam as ovelhas”, mas ao mesmo tempo, os blogueiros precisam da Igreja e de seus pastores para lembrá-los de que a misericórdia de Deus se estende à todas as pessoas e que Jesus quer que Seus seguidores estejam unidos, disse ela.
Arcebispo Claudio Celli, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, deu as boas-vindas aos blogueiros e disse-lhes que o Vaticano desejava dar início a “um diálogo entre a fé e a cultura emergente”, que é a blogosfera.
Rocco Palmo, autor do “Whispers in Loggia”, disse aos presentes que os 150 convidados representavam “muitos dos melhores profissionais de comunicação” à serviço da Igreja Católica, embora seja raro que recebam pelo que escrevem nos blogs.
O encontro, disse ele, é um reconhecimento da “nossa contribuição para a vida da Igreja”.
Um dos tópicos em discussão foi o fato de que o ato de blogar já está mudando porque, em muitos países, as messagens de 140 caracteres do Twitter estão se transformando na forma de comunicação mais popular.
Outro tema falava sobre o uso de estórias e fotografias com direitos autorais extraídas de sítios de notícias.
Mattia Marasco, autor do “WikiCulture”, disse ao grupo que embora seja correto dar crédito à fonte do material, os direitos autorais são “um modelo antigo para uma nova mídia”.
Padre Vonhogen disse que jornalistas profissionais terão que se acostumar com o fato de suas matérias serem usadas, sabendo que isso significa publicidade gratuita e que se forem bons jornalistas eles irão sobreviver.
“Se roubarem parte do seu conteúdo, enquanto você produzir qualidade, você se sairá bem”, disse ele.
O padre jesuíta, Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse aos blogueiros que embora o Papa Bento XVI “seja uma pessoa que não tuíta e não tenha um blog pessoal, ele é muito atento e sabe bem o que acontece no mundo” e apoia os esforços da mídia católica, como demonstrado pela sua entrevista para a televisão na Sexta-Feira Santa e pela sua entrevista do tamanho de um livro com o escritor alemão Peter Seewald.
“Os blogueiros são importantes” na formação e na informação dos membros da Igreja, disse padre Lombardi, mas todo aquele que influencie aquilo que pensam os católicos deve reconhecer a responsabilidade que isso traz.
Padre Lombardi disse que precisava agradecer os blogueiros pelas vezes que eles entraram em ação para explicar e propagar a doutrina da Igreja e o pensamento do Papa Bento XVI.
Mas ele também disse que toda a questão sobre o “ego” e centralização em si mesmo dos blogueiros é “um dos problemas nos quais vale a pena refletir”, porque embora seja um perigo para todos os comunicadores, um comunicador que se diz católico deve se concentrar primeiro em servir aos outros.
Thomas Peters, que é o autor de “American Papist”, recebeu uma forte salve de palmas quando pediu ao padre Lombardi para incluir os blogueiros na lista de comunicadores que recebem cópias adiantadas dos documentos do Vaticano; ele disse que as grandes empresas da mídia laica recebem cópias adiantadas e frequentemente utilizam essa antecipação para preparar estórias que não são corretas.
Padre Lombardi disse que a Sala de Imprensa do Vaticano disponibiliza informações e documentos à todos os jornalistas credenciados concomitantemente, não fazendo distinção entre os principais jornais e a mídia católica. Um esforço que pode ajudar, disse ele, é o seu próprio trabalho no sentido de melhorar a colaboração entre os departamentos de comunicação das conferências episcopais e as dioceses com a finalidade de assegurar que as notícias cheguem de forma rápida e com precisão.
Tradução: Sandra Katzman