terça-feira, 7 de julho de 2009

A nova encíclica de Bento XVI Caritas in Veritate e a Hermenêutica da Continuidade



Gregor Kollmorgen

Hoje, no segundo aniversário da publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, a terceira encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in Veritate [o texto está disponível em Alemão, Espanhol, Francês, Inglês, Italiano, Polonês e Português], a respeito da doutrina social - "sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e da verdade" - foi publicada.

Durante uma primeira leitura do texto, encontrei esta passagem, na qual o Santo Padre destaca novamente o princípio da Hermenêutica da Continuidade, tão essencial, como sabemos, também no que diz respeito à Sagrada Liturgia. Eis a passagem:

12. A ligação entre a Populorum progressio e o Concílio Vaticano II não representa um corte entre o magistério social de Paulo VI e o dos Pontífices seus predecessores, visto que o Concílio constitui um aprofundamento de tal magistério na continuidade da vida da Igreja. Neste sentido, não ajudam à clareza certas subdivisões abstractas da doutrina social da Igreja, que aplicam ao ensinamento social pontifício categorias que lhe são alheias. Não existem duas tipologias de doutrina social — uma pré-conciliar e outra pós-conciliar —, diversas entre si, mas um único ensinamento, coerente e simultaneamente sempre novo. É justo evidenciar a peculiaridade de uma ou outra encíclica, do ensinamento deste ou daquele Pontífice, mas sem jamais perder de vista a coerência do corpus doutrinal inteiro. Coerência não significa reclusão num sistema, mas sobretudo fidelidade dinâmica a uma luz recebida. A doutrina social da Igreja ilumina, com uma luz imutável, os problemas novos que vão aparecendo. Isto salvaguarda o carácter quer permanente quer histórico deste « património » doutrinal, o qual, com as suas características específicas, faz parte da Tradição sempre viva da Igreja. A doutrina social está construída sobre o fundamento que foi transmitido pelos Apóstolos aos Padres da Igreja e, depois, acolhido e aprofundado pelos grandes Doutores cristãos. Tal doutrina remonta, em última análise, ao Homem novo, ao « último Adão que Se tornou espírito vivificante » (1 Cor 15, 45) e é princípio da caridade que « nunca acabará » (1 Cor 13, 8). É testemunhada pelos Santos e por quantos deram a vida por Cristo Salvador no campo da justiça e da paz. Nela se exprime a missão profética que têm os Sumos Pontífices de guiar apostolicamente a Igreja de Cristo e discernir as novas exigências da evangelização. Por estas razões, a Populorum progressio, inserida na grande corrente da Tradição, é capaz de nos falar ainda a nós hoje.

Fonte: NLM