domingo, 5 de julho de 2009

Ratzinger, o Cardeal-Sacerdote: "Ele está obviamente interessado na verdade e quer que outros se interessem também pela verdade e não apenas nele"

"Veja como ele se ajoelha diante da Eucaristia! Um gesto muito poderoso, mas não é realmente um gesto, é uma atitude normal quando você respeita a Eucaristia".


Quando o cardeal Joseph Ratzinger foi proclamado Papa, eu lembro-me como se fosse hoje da alegria de um padre amigo que estava de pé ao meu lado, na praça de São Pedro.

«O cardeal Ratzinger», disse ele, «era um cardeal-sacerdote». Isso proporcionou-me uma visão surpreendente, que agora me faz sentir aquele momento.

Bento XVI inaugurou o Ano Sacerdotal. É a primeira vez desde que a Congregação para o Clero foi fundada, no Concílio de Trento, que a Igreja dá este destaque especial aos sacerdotes.

É apenas um dos muitos exemplos do quanto ele valoriza o sacerdócio. Noutros locais, a honra de Bento XVI pode ser vista mais claramente nos seus discursos para padres e seminaristas. Frequentemente, em tais ocasiões, ele tem falado sobre a necessidade de reafirmar a identidade do sacerdote, sobre a urgência de ser «humilde, mas um verdadeiro sinal do eterno Sacerdote, que é Jesus».

Mais especificamente, ele tem realizado discursos com palavras firmes de orientação e incentivo, principalmente considerando as pressões e desafios nos dias de hoje. Dirigindo-se ao clero, em Varsóvia, na Polónia, em 25 de Maio de 2006, ele lembrou-lhes que os fiéis «esperam somente uma coisa: que sejam especialistas na promoção do encontro do Homem com Deus. Ao sacerdote não se pede para ser perito em economia, em construção ou em política. Dele espera-se que seja perito em vida espiritual».

Ele acrescentou: «Diante das tentações do relativismo ou do permissivismo, não é de facto necessário que o sacerdote conheça todas as actuais, mutáveis correntes de pensamento; o que os fiéis esperam dele é que seja testemunha da eterna sabedoria, contida na palavra revelada. Cristo precisa de sacerdotes que sejam maduros, vigorosos, capazes de cultivar uma verdadeira paternidade espiritual. Para que isto aconteça, servem a honestidade consigo mesmos, a abertura ao director espiritual e a confiança na divina misericórdia».

Mas o ponto mais enfatizado por Bento XVI tem sido para que os sacerdotes vivam com Cristo no centro das suas vidas. Num discurso que fez no ano passado para os jovens e seminaristas no Seminário de São José, em Yonkers, Nova York, recomendou insistentemente que eles aprofundem a sua amizade com Jesus, o Bom Pastor, e falem de coração aberto com Ele.

«Rejeitai qualquer tentação de exibicionismo, carreirismo ou vaidade», disse. «Tendei para um estilo de vida caracterizado verdadeiramente pela caridade, castidade e humildade, à imitação de Cristo, o eterno Sumo Sacerdote, do qual vos deveis tornar imagem viva. Recordai-vos que aquilo que conta diante do Senhor é permanecer no Seu amor e irradiar o Seu amor pelos outros».

A sua principal preocupação é que os sacerdotes se concentrem na Eucaristia – algo que estava claro desde o seu primeiro discurso como Papa, na Capela Sistina, em Abril de 2005: «O sacerdócio ministerial nasceu na Última Ceia», disse ele. «Tudo o resto deve ser a vida de um sacerdote ‘moldada’ pela Eucaristia».

Quatro anos desde o monumental dia, quando vimos a eleição de Bento XVI na Praça de São Pedro, eu pedi ao meu amigo padre para me explicar o motivo pelo qual ele descreveu o Papa como sendo um «cardeal-sacerdote».

«Ele é primeiro padre e depois uma pessoa importante. Veja como ele se ajoelha diante da Eucaristia», continuou o sacerdote, que vem da Grã-Bretanha e trabalha numa paróquia italiana.
«Um gesto muito poderoso, mas não é realmente um gesto, é uma atitude normal quando você respeita a Eucaristia».

O padre concluiu: «Ele está obviamente interessado na verdade e quer que outros se interessem também pela verdade e não apenas nele. Os sacerdotes que não têm vocação para serem burocratas, só se tornam um deles quando são oprimidos e desmoralizados por uma diocese severa que possui “grandes iniciativas” e por alguns bispos que querem uma vida tranquila. Mas ele nunca perdeu de vista a razão pela qual se fez sacerdote, o que funciona e não funciona enquanto sacerdote».

Edward Pentin

Fonte: Mansidão