Bento XVI chegou neste sábado á noite ao Hyde Park, de Londres, depois de um percurso em papamóvel em que foi saudada por milhares de pessoas ao longo das ruas, muitas com bandeiras do Vaticano, com cânticos e palmas.
Cerca de 80 mil pessoas, participaram numa vigília ao ar livre para preparar a beatificação do Cardeal John Henry Newman, uma das figuras mais importantes da Igreja inglesa no século XIX.
Não admira que Bento XVI tenha centrado a sua intervenção sobre esta figura que – como confidenciou – teve “um importante influxo” na sua vida e no seu pensamento. “O drama da vida de Newman – observou o Papa – convida-nos a examinar a nossa própria vida, vendo-a no contexto do vasto horizonte do plano de Deus, e a crescer em comunhão com a Igreja de cada tempo e lugar: a Igreja dos Apóstolos, a Igreja dos mártires, a Igreja dos santos, a Igreja que Newman amou e a cuja missão consagrou toda a sua existência”. Um exemplo de vida que mantém toda a actualidade:
“Nos nossos dias, quando um relativismo intelectual e moral ameaça abalar os próprios alicerces da nossa sociedade, Newman recorda-nos que, como homens e mulheres criados à imagem e semelhança de Deus, fomos criados para conhecer a verdade, para encontrar nela a nossa definitiva liberdade e a realização das mais profundas aspirações humanas”.
Recordando que, bem perto do local da celebração, deram a vida pela fé, no século XVI, grande número de irmãos católicos, observou Bento XVI:
“Na nossa época, o preço a pagar pela fidelidade ao Evangelho não é tanto o de ser enforcado, afogado ou esquartejado, mas implica, muitas vezes, o sermos considerados irrelevantes, ridicularizados ou objecto de mofa. E contudo a Igreja não se pode eximir ao dever de proclamar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvadora, manancial da nossa felicidade última, como indivíduos, e como fundamento de uma sociedade justa e humana”.
Bento XVI evocou com grande apreço o “realismo cristão, concreto” de Newman, aquele “ponto concreto onde se entrecruzam inevitavelmente a fé e a vida”:
“A fé está destinada a dar fruto na transformação do nosso mundo mediante a potência do Espírito Santo que actua na vida e na actividade dos crentes. Não há ninguém que encare com realismo o nosso mundo de hoje que possa pensar que os cristãos podem continuar as fazer as coisas de cada dia ignorando a profunda crise de fé que afecta a nossa sociedade, ou confiando simplesmente que o património de valores transmitido ao longo dos séculos possa continuar a inspirar e plasmar o futuro da nossa sociedade.
Quase a concluir a sua intervenção, na vigília de oração, neste sábado à noite, no Hyde Park, Bento XVI exprimiu a sua esperança na providência de Deus que, “nos tempos de crise e de rebeliões” faz “surgir grandes santos e profetas para a renovação da Igreja e da sociedade cristã”. Cada um assuma as suas responsabilidades:
“Cada um de nós, segundo o próprio estado de vida, está chamado a actuar para a difusão do Reino de Deus, impregnando a vida temporal com os valores do Evangelho. Cada um de nós tem uma missão, todos somos chamados a transformar o mundo, a actuar a favor de uma cultura da vida, uma cultura forjada pelo amor e pelo respeito pela dignidade de cada pessoa humana”.
Fonte: Radio Vaticano