quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN: ORIENTAÇÕES SOBRE POLÍTICA E ELEIÇÕES


DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN
Bispo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico


ORIENTAÇÕES SOBRE POLÍTICA E ELEIÇÕES
AOS SACERDOTES E FIÉIS
DA ADMINISTRAÇÃO APOSTÓLICA PESSOAL
SÃO JOÃO MARIA VIANNEY



Caríssimos sacerdotes e fiéis da nossa Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.

Embora não tenha nenhum partido político nem faça campanha partidária, a Igreja pode e deve orientar os seus fiéis sobre a importância de seu voto consciente.

“A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política... não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça... não poderá firmar-se nem prosperar” (Papa Bento XVI, Deus caritas est, n. 28).

Com a proximidade das eleições, pois, venho alertá-los para o grave dever de votar corretamente, com consciência cristã, escolhendo o melhor candidato, segundo os critérios que passamos a apresentar.

1. GRAVIDADE DA SITUAÇÃO POLÍTICA ATUAL

A situação política atual é de fato decadente. Parece estar falando de nosso tempo o notável Eça de Queirós, que, em 1871, escrevera com sua verve inconfundível: “Estamos perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita... Ninguém crê na honestidade dos homens públicos... A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país está perdido! Algum opositor do atual governo? Não!”

E, parece que a crise vem de longe, nesse nosso país, desde que trocaram o nome cristão de “Terra de Santa Cruz” pelo de Brasil, como escreveu o historiador Simão de Vasconcelos: “...Terra de Santa Cruz, título que depois converteu a cobiça dos homens em Brasil, contentes do nome de outra madeira bem diferente do da cruz e de efeitos bem diversos”.

Infelizmente, a corrupção eleitoral ainda é um problema enraizado na mentalidade do nosso povo. Muitos acham natural a troca do voto por algum favor do candidato. É preciso instalar uma nova consciência política e mudar a situação com o nosso voto. Voto não se vende. “Voto não tem preço, tem conseqüências”. Não vote apenas levado pela propaganda, pela maioria, pelo interesse financeiro pessoal ou por pressão. Cada um é responsável pelo seu voto e suas conseqüências.

E a corrupção econômica não é a única nem a mais importante. Pior ainda é a corrupção dos costumes, da moral e, sobretudo, das idéias, com a implantação do relativismo, do materialismo e do ateísmo. Como cristãos, nós sabemos que a base da moral e da ética é a lei de Deus, natural e positiva, traduzida na conduta pelo que se chama o santo temor de Deus, ou a consciência reta e timorata. Uma vez perdido o santo temor de Deus, perde-se a retidão da consciência, que passa a ser regida pelas paixões.

É importante conhecer e divulgar informações a respeito dos candidatos: quem são eles, que é que já realizaram em prol da população, qual é a sua história, quais são suas propostas, suas idéias, a quem apóiam e estão ligados, sua origem política, seu partido e qual a linha ideológica do seu partido.

É fundamental discernir o perfil ético e as verdadeiras motivações dos que se apresentam como candidatos. É necessário também examinar o programa do partido ao qual está filiado o candidato. Não vote em candidatos despreparados e sem metas claras, incapazes de uma política consistente: eles serão facilmente manobrados por outros. Desconfie de candidatos oportunistas, dos que praticam a compra de votos, prometendo favores. É bom desconfiar de candidatos sustentados por campanhas financeiras vultosas que facilitam a compra de votos, pois eles podem tentar recuperar, de alguma forma, o investimento realizado, utilizando-se dos privilégios adquiridos no exercício da função publica. E não vote em partidos cujo programa contenha princípios contra a lei natural e cristã.