terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dom Edney Gouvêa Mattoso: "Como se podem conjugar as palavras saúde e morte em uma mesma afirmação?"




"Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância". (Jo 10,10)

Caros leitores, o artigo de hoje quer provocar em nós uma reflexão sobre o dom maior que nos foi dado por Deus: a vida.

Vida não é somente uma palavra a mais. Sobre ela apoiamos todos os outros bens humanos. É natural que a Igreja, como anunciadora da vida em plenitude que Cristo nos oferece, se levante com toda a veemência contra tudo e contra todos os que atentam contra esse bem maior. Entretanto, nos últimos anos, em nosso país, estamos vivendo uma bárbara investida contra este bem fundamental da pessoa humana. Cito alguns fatos de grande relevância:

- em abril de 2005, o atual governo brasileiro apresentou um relatório à ONU onde se comprometia a legalizar o aborto;

- em setembro do mesmo ano, através da Secretaria Especial de Política das Mulheres, apresentou um projeto de descriminalização do aborto até o nono mês de gestação e por qualquer motivo;

- um ano depois, na apresentação do plano de governo atual, se reafirmou, com linguagem velada, o mesmo compromisso e, em setembro de 2009, dois deputados foram punidos por opor-se à legalização do aborto;

- finalmente, em fevereiro deste ano, em congresso de um conhecido partido político, ficou claro o apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto.

Todos estes atos pertencem a uma forte ideologia que classifica o aborto como "questão de saúde pública e de progresso".

Meus amigos, como um povo pode pensar em um verdadeiro progresso quando se cogita o melhor modo de assassinar barbaramente a própria descendência, que é o futuro da nação? Como se podem conjugar as palavras saúde e morte em uma mesma afirmação?

"A abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento". Nos recorda, como uma luz de sensatez no meio das trevas da atual sociedade, o Santo Padre Bento XVI, em sua última encíclica. E continua "Quando uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e energias necessárias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem do homem. Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social". (CV 28)

A gravidez não é um "problema de saúde". Não se classificam as enfermidades pelos critérios pessoais, políticos ou financeiros, mas pelo prejuízo real à vida do homem. Se há uma enfermidade em questão, essa é a falta de sensibilidade ante o dom da vida.

Não sejamos cúmplices dos crimes contra a vida!

Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo Diocesano de Nova Friburgo