quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dom Fernando Rifan, aborto e 2° turno: "O que se pede é apenas sinceridade, coerência e clareza: “sim”, se é sim; e “não”, se é não"



"Voto livre e racional"

“A Igreja... não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça... não poderá firmar-se nem prosperar” (Papa Bento XVI, Deus caritas est, n. 28).

A Igreja não usa métodos terroristas, fundamentalistas ou irracionais para convencer os seus fiéis. Mas os orienta a votar de modo livre, racional, consciente e coerente com os princípios cristãos. Mas, para proceder assim, eles precisam conhecer bem a verdadeira posição dos candidatos. É preciso que estes se explicitem com sinceridade e clareza, porque nessa época eleitoral proliferam as meias verdades, as palavras de duplo sentido, as acomodações temporárias e os fingimentos.

A respeito da legalização do aborto provocado, vale relembrar que se trata de assassinato de uma criança (um feto) em gestação. E é questão de justiça ouvir “o grito silencioso” desses que serão excluídos da vida. Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo, falando na Semana Nacional da Vida, defendeu “a livre manifestação de bispos e padres... que têm pregado o voto contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Roussef, alegando que ela é a favor do aborto... Ele defendeu o direito de os eleitores conhecerem a posição dos candidatos sobre temas importantes: - O aborto é questão que merece consideração política. Ou a vida humana seria tão desprezível que não merece atenção da discussão política?” (Folha de São Paulo (8/10/2010, pág. 14).

A candidata já falou no passado que é a favor da descriminalização do aborto (sabatina da Folha de SP, 4/10/2007) e fala agora que é contra o aborto e a favor da vida. Os que citam suas palavras a favor da legalização do aborto são acusados de fundamentalismo religioso e terrorismo. Mas o que se pede é apenas sinceridade, coerência e clareza: “sim”, se é sim; e “não”, se é não (cf. Mt 5,37). Mas, se agora ela disse que é contra, por que a dúvida?

Porque entre os compromissos que todo candidato do PT assina, está o de acatar as resoluções do Partido, entre as quais está a “defesa da descriminalização do aborto” (Estatuto do PT, art. 128, § 1º e Resoluções do 3º Congresso do PT, p. 82).

O articulista da Folha de São Paulo, Carlos Heitor Cony escreve: “Sabe-se que a descriminalização do aborto faz parte do programa inicial do PT, e acusaram Dilma de ser a favor da tese. Ela negou. Com todos os que evitam claramente abordar a questão, ela diz que é a favor da vida – o que é vago: ninguém é a favor da morte” (Folha de São Paulo, 10/11/2010, pág. A2). No mesmo jornal, Fernando de Barros e Silva, escreve: “O QG dilmista procura tirar a polêmica do aborto da pauta. Mas de pouco adianta Ciro Gomes dizer que os tucanos propõem o tema ‘em termos calhordas e desonestos’ se Dilma não consegue ser honesta consigo mesma. Seu contorcionismo é tanto nessa matéria que ela se arrisca a enrolar a língua” (Folha de São Paulo, 8/10/2010, pág. A2).