Segue a tradução de parte da entrevista feita pelo jornal Avanti ao Mons. Nicola Bux, consultor das Congregações para a Doutrina da Fé, do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Em que ponto está a “reforma da reforma” desejada por Bento XVI?
Com esta expressão, que Ratzinger utilizou quando ainda era o Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ele quis dizer que a reforma que ocorreu após o Conselho tinha de ser retomado, e de certa forma corrigida onde, utilizando sempre suas palavras, a restauração da pintura tinha sido demasiada, isto é, ao tentar limpá-la, tinha-se assumido o risco de remoção de muitas camadas de cor. Começou esta restauração através de seu próprio estilo. O Papa celebra a liturgia de uma maneira suave, não espalhafatosa. Ele também quer que as orações, músicas e qualquer outra coisa não sejam em tons exibicionistas. E duas acções especiais nas suas liturgias que são óbvias devem ser notados: ele coloca a Cruz entre si e a congregação, indicando que o rito litúrgico não é dirigida ao ministro sacerdotal, mas a Cristo; e ajoelhando na recepção da Comunhão, indicando que esta não é uma ceia, no sentido mundano da palavra, mas uma comunhão com o corpo de Jesus Cristo, que é adorada em primeiro lugar, nas palavras de Santo Agostinho, e só depois comida.
Quantos obstáculos tem o Motu Proprio Summorum Pontificum sobre a Missa pré-conciliar enfrentando?
Acredito que, actualmente, os obstáculos são cada vez mais fracos do que no momento em que o Motu Proprio foi emitido, em 2007. Através da Internet, pode-se ver como há um movimento discreto de jovens que procuram e, tanto quanto possível, vão à Missa Tradicional, também chamada de Missa Latina, ou Missa de Todos os Tempos. E isso, creio eu, é um sinal muito importante para ter em atenção.
É claro que os pastores da Igreja, em primeiro lugar os bispos e os párocos, embora muitas vezes dizendo que devemos ser capazes de captar os sinais dos tempos, uma expressão muito em uso após o Vaticano II, muitas vezes não conseguem entender que os sinais dos tempos não são definidos por eles, mas que acontecem e são regulados principalmente pelos jovens. Acho que este é o sintoma mais interessante, porque, se [apenas] os idosos, os adultos, fossem à Missa Tradicional, um poderia abrigar a suspeita de que é nostalgia. O facto de serem maioritariamente os jovens que procuram e participam na Missa Latina é completamente inesperado e, portanto, merece ser lido, entendido, e acompanhado particularmente pelos bispos.
Acho que o Papa reconhece isto e é por isso que ele pretende fazer uma contribuição adicional através de uma instrução sobre a aplicação do Motu Proprio, para ajudar todos a compreender que, para além da nova forma do Rito Romano, existe a antiga ou forma extraordinária.
Tradução: Una Voce Portugal