Genebra, 27 mar (RV) - O Conselho da ONU para os direitos humanos aprovou nesta quinta-feira, dia 26, em Genebra, na Suíça – com uma estreita maioria de 23 votos a favor, 11 contrários e 13 abstenções – uma controversa resolução sobre a difamação das religiões. A mesma foi apresentada pelo Paquistão em nome dos Países da Organização da Conferência Islâmica.
O texto da resolução expressa "profunda preocupação" pela freqüente difamação das religiões. Todavia, o documento cita somente o Islamismo.
A Santa Sé posicionou-se contra a resolução, por considerar a liberdade de expressão estreitamente ligada à liberdade religiosa, como nos explica o observador permanente da Santa Sé no escritório da ONU em Genebra, Dom Silvano Maria Tomasi, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Dom Silvano Maria Tomasi:- "Se se começa a abrir a porta a um conceito de difamação que se aplica às idéias, de certo modo, o Estado começa a decidir quando uma religião é difamada ou não, e isso acaba atingindo a liberdade religiosa. Por exemplo, o reconhecimento jurídico do conceito abstrato de difamação da religião pode ser utilizado para justificar as leis contra a blasfêmia, que sabemos muito bem como em alguns Estados são utilizadas para atacar minorias religiosas, inclusive de modo violento. O desafio é o de encontrar um equilíbrio sadio, que una a própria liberdade ao respeito pelos sentimentos dos outros; e o caminho para alcançar esse objetivo é o de aceitar os princípios fundamentais da liberdade, que estão inscritos nos tratados internacionais."
P. Em seu pronunciamento feito à Comissão, o senhor denunciou o aumento da intolerância religiosa no mundo, em particular contra as minorias cristãs...
Dom Silvano Maria Tomasi:- "Se olharmos a situação mundial, veremos que, de fato, os cristãos – como várias fontes estão documentando – são o grupo religioso mais discriminado. Fala-se de 200 milhões de cristãos, de uma confissão ou de outra, que se encontram em situações de dificuldade, porque existem estruturas legais ou culturas públicas que levam, de algum modo, a uma certa discriminação contra os cristãos. Esse é um dado do qual não se fala muito, embora seja real, basta pensar nos episódios de violência registrados nos últimos meses em vários contextos políticos sociais."
P. Ademais, o senhor ressaltou que os cristãos são submetidos a discriminações também em alguns países onde são maioria, e onde estão sendo incrementadas novas políticas que buscam reduzir o papel da religião na vida pública...
Dom Silvano Maria Tomasi:- "Existem situações particulares que levam a uma certa marginalização daqueles que realmente acreditam e vivem a sua fé cristã. Existem posicionamentos – até mesmo declarações públicas de parlamentares – que atacam esse ou aquele aspecto da fé cristã, e isso tende a colocar os cristãos à margem da sociedade e a excluir a contribuição de seus valores à sociedade." (RL)
Fonte: Radio Vaticano