segunda-feira, 30 de março de 2009

Aborto e Semana Santa


O que tem a ver o aborto com a Semana Santa?

A resposta a esta pergunta requer a matização de um “depende”... Se por Semana Santa entendemos algumas encenações de rua de interesse turístico nacional, então, certamente não tem nada a ver. Porém, se a Semana Santa é a memória viva da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, então, não o duvidemos, é absolutamente impossível separá-los. O aborto está intimamente unido à Paixão de Cristo, da mesma maneira que lhe estão unidos a guerra, a fome e tantas outras injustiças, consequência de nosso pecado, por cuja redenção Jesus Cristo entregou sua vida na Cruz.

Aos que afirmaram que não há conexão entre o aborto e esta festividade religiosa, lhes aconselharia a leitura de um livro que nos marcou a muitos em nossa juventude, com um título bem significativo: “Dios llora en la Tierra”.


Ainda que doa, a liberdade “liberta”

Jesus nos ensinou que a “verdade nos torna livres” (cf. Jo 8,32); mas enquanto não chega este momento, incomoda bastante! Nós o pudemos comprovar a propósito da campanha da Conferência Episcopal Espanhola em defesa da vida.

O lince está dando muito que falar, e confiemos que também nos ajude a “reconsiderar”. O certo é que existem verdades inquestionáveis: um ovo de águia tem mais proteção jurídica na Espanha que um ser humano no seio de sua mãe. Não se trata de uma afirmação agressiva e belicista, como alguns pretendem apresentar, mas uma simples constatação da realidade.

A comparação entre o animal e o ser humano não “desmerece o lince” – como afirma algum político, no cúmulo do despropósito – senão que, em todo caso, enaltece a causa ecologista. O incrível é que tenhamos que recorrer ao lince para dignificar o ser humano. No fundo, estamos diante de uma constatação de que quando nossa cultura dá as costas a Deus, o homem é destronado de sua condição de “rei da criação”, até o ponto de ser rebaixado à condição de escravo.


A mulher, santuário da vida

Penso sinceramente que a Igreja está fazendo o que Deus espera dela neste momento chave da história: desgastar seu prestígio e suas energias na defesa da vida dos mais inocentes. A cultura da morte pretende distorcer a realidade, contrapondo a defesa da vida do filho ao suposto direito da mulher a uma “maternidade a la carte”. O certo é que defender o filho é defender a mãe.

Ao dizer isto não estou pensando exclusivamente nas feridas traumáticas que se manifestam na “Síndrome pós-aborto”... Os males derivados do aborto para a mulher são muitos e devastadores:

Como se pode falar de aborto como um direito da mulher de “decidir em liberdade”, quando sabemos de sobra que atrás da maioria das interrupções violentas da gravidez se esconde a pressão e a chantagem do homem? Como se pode reivindicar o aborto no contexto da promoção da mulher, quando em numerosos países se está produzindo um grave desequilíbrio entre a população masculina e feminina, por motivo do recurso ao aborto para a seleção do sexo? O caso da China é paradigmático: para cada 119 meninos, nascem somente 100 meninas. Calcula-se que no ano 2020 haverá nesse país 300 milhões a mais de homens que de mulheres.

A reivindicação do feminismo radical, que associou a promoção da mulher à libertação de sua maternidade, resultou em ser seu próprio túmulo. Pelo contrário, uma das dimensões que mais dignifica a mulher é sua condição de “santuário da vida”.


O sacrifício do inocente

Se queremos viver verdadeira e intensamente nossa Semana Santa, não podemos nos esquecer da ação de graças pelo dom da vida; da chamada à responsabilidade em seu cuidado; nem tampouco da denúncia profética diante do sacrifício dos inocentes. Também Jesus Cristo foi o “inocente” sobre o qual lançamos as culpas dos pecadores. O diálogo do bom ladrão com seu companheiro de suplício é bem significativo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? E nós com razão, porque o merecemos; ele, porém, nada de mau fez” (Lc 23,41).

O certo é que, enquanto discutimos, o aborto chegou a ser a primeira causa de mortalidade na Espanha. Em toda nossa longa história, se excluímos a peste negra na Idade Média, nenhuma guerra, enfermidade ou catástrofe, eliminou tantas vidas humanas. O que está em jogo é algo tão básico, como nossa capacidade de nos comover pela sina do inocente. É questão de humanidade, de solidariedade e de misericórdia!

Dom José Ignacio Munilla

Bispo de Palencia

Fonte: Religion en liberdad

Tradução: Oblatus



Leya también:


La "Marcha por la Vida" concluyó a primera hora de ayer por la tarde en la madrileña plaza de Neptuno con una fiesta en la que los manifestantes, principalmente familias, expresaron su oposición a la reforma de la ley del aborto. La concentración, que según los organizadores ha sido secundada por medio millón de personas, ha terminado con la lectura de un manifiesto por parte de la portavoz de la plataforma Derecho a Vivir, Gádor Joya. Ni la Delegación del Gobierno en Madrid ni la Policía Municipal han ofrecido datos sobre el número de participantes.